sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A Política na Bíblia

O simples pronunciar a palavra política, já causa arrepios em muitos, alguns até, acendem em suas mentes, luzes vermelhas de advertência. Os paradigmas “a igreja não deve se envolver com política” e, “religião e política não se misturam”, são os principais norteadores do pensamento evangélico quanto à política.  Alguns mais influenciados por esses paradigmas dirão: “a palavra política não consta nas escrituras”, enquanto que outros mais tendenciosos afirmarão: “tudo na Bíblia tem a ver com a política”.


Ambas as correntes tem fortes e comprovados argumentos, é claro, cada um segundo sua ótica, mas todos alicerçados na Bíblia. Portanto, diante destas correntes como nos posicionar? Qual delas aderir? Os extremos são perigosos, por isso alguém já disse que o ponto de equilíbrio não está no meio, mas em algum lugar entre os dois pontos.

Que partido tomar? Veja só, já estamos falando em partidos, parece que a política está onipresente. Calma, não é dos partidos políticos que nos referimos, mas de qual posição estaremos mais próximos? Entenda, mais próximos, não unidos.

Creio que os adeptos dos extremos o fazem por desconhecerem ou conhecerem o termo política de forma equivocada. Vamos entender o que significa a palavra política.

Podemos conceituá-la de forma ampliada ou mesmo de forma mais convencional. Pela forma ampliada, a palavra política denota a vida da cidade(polis) e a responsabilidade do cidadão(polites). Tem a ver com o todo na nossa vida em sociedade. É a arte de viver juntos em comunidade.
De forma mais convencional, política é a ciência de governar; é a preocupação com o desenvolvimento e a condução de negócios que interessam a um Estado, maneira de conduzir um Estado.
Com o passar dos tempos, foram sendo agregadas novas tendências para o conceito da política, ou seja: busca por interesses particulares, partidarismo, busca pelo poder (transformando-a em um campo de troca de favores), um fisiologismo institucionalizado.

Sob essas perspectivas é que analisaremos a política na Bíblia.
Segundo as formas ampliada e convencional do termo, podemos afirmar que a Bíblia é um livro que trata de política, não sob a perspectiva do homem, mas sob a perspectiva de Deus. Em primeiro lugar, sendo Deus criador, criou entre tudo, a ciência que inclui a política. Deus definiu a política do homem na terra, ou seja, este deveria governar sobre ela, sujeitando-a. Ao criar o homem e dar as suas primeiras ordens, Deus já o estava na política. Ele queria na terra um governo que refletisse o seu, do céu. A própria forma de Deus criar a terra é extremamente significativa. Ele primeiro cria os reinos (luz, céu, águas, terra, mares), depois cria os reis para governá-los (luzeiros - sol, lua e estrelas, aves e peixes, animais). No final criou aquele que seria o representante do Seu reino na terra e, por conseguinte rei sobre tudo, o homem. Desta forma estava clara a intenção política de Deus através do homem.  

Só por estas afirmações, já seriam suficientes para ver presente na Bíblia a política. Contudo podemos ainda ver mais: Deus queria um povo, que seria sua nação, um reino de sacerdotes, contudo, este preferiu admitir para si uma política de um reino igual ao da terra.
Mesmo sendo Senhor absoluto de tudo e todas as coisas, Deus sempre respeitou a terra com seus governos e políticas. Por isso utilizava os meios e poderes instituídos quando queria interferir na terra. Levou o próprio Faraó a ordenar a saída do povo de Israel do Egito, usou a política da Babilônia para preservar o reino do sul que seria o remanescente de Israel, usou o rei Artaxerxes para a reconstrução do muro e a volta do povo para Jerusalém. Deus também criou algumas instituições de governo entre seu povo e outras admitiu, tais como: O templo e o sacerdócio.

A última ação política de Deus na terra foi enviar seu filho Jesus Cristo, que seria Ele mesmo habitando conosco em comunidade. Esta sim, a grande política de Deus, a arte de viver junto com a sua criação, daí Jesus trazer no seu nome, Emanuel que significa Deus conosco. Agora seria a vez de Jesus continuar a política de Deus. Por isso chegou dizendo: “É chegado o reino de Deus”. Política de novo? Sim, mas a pura política de Deus.

Mesmo sendo clara a ação política de Deus na terra, não podemos afirmar que Ele fez a política segundo o que chamamos as novas tendências, ou seja, busca de interesses, busca pelo poder, partidarismo. Jesus em nenhum momento se envolveu com este tipo de política. Ele não fundou nenhum partido político, não organizou qualquer protesto. Nada fez para lutar contra a política de César ou Pilatos ou mesmo Herodes. Mesmo tendo a multidão que o seguia recusou a carreira política.

Esta foi uma das grandes diferenças entre Jesus e Gandhi. Enquanto Gandhi desenvolveu uma política de salvamento da Índia do poder britânico por meio da desobediência civil sem violência, Jesus desenvolveu a política de salvação do homem dando a sua vida, sem, no entanto, envolver-se com qualquer governo instituído na terra.

Poderíamos falar ainda muitas coisas, mas nunca provarmos que Deus usará a política instituída para alcançar seus objetivos entre nós. Ele, contudo, respeitará o sistema que o próprio homem criou, mas não se limita ou se submete a ele. O interesse de Deus é transformar o coração do homem, e não usará a política para fazê-lo, pois o plano já foi traçado e cumprido, ou seja, Jesus Cristo, Seu filho.

Enquanto entre os homens o processo de solução para todos os problemas é político, para Deus o processo não o é. Esta ideia de que o processo político é verdadeiro, tanto que o anticristo vai se utilizar dele para alcançar o poder. Ele se aproveitará do processo político para implantar a política do reino do seu pai Satanás. Salomão falhou como homem de muitas formas, mesmo sendo um sábio, mas um dos seus maiores erros foi como um político, pois transformou Israel em uma grande potência, quando Deus queria que fosse somente seu povo e nada mais.

Creio que este é um erro em que muitos líderes caem, mesmo visando a implantação do reino de Deus, lutam para transformar sua igreja em uma grande potência, quando Deus a quer somente como sendo o corpo de Cristo, o povo de propriedade exclusiva, uma nação santa e de eleitos, a fim de viver com este em uma comunidade eterna onde todos experimentarão a verdadeira política, que ele queria implantar no início de todas as coisas.

Ainda que a política seja necessária para o sistema de governo na terra, a fim de evitar que a anarquia e o caos se instalem em uma nação, não cremos que o processo de fazer discípulos em todas as nações conforme a ordem de Jesus, dependa do sistema político instalado.

Não pregamos a ausência da Igreja na política ou um afastamento dos políticos. Não! Somos sal e luz da terra, portanto, sal e luz da política. Faremos então política? Sim, contudo aquela que Deus idealizou: implantação do seu reino na terra, fazer conhecidas, Sua lei e Sua vontade. Deus deseja que façamos a Sua política, conforme nos ensinou Jesus: “Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”.

Tomaz de Aquino

São Luis, 06/08/10