quinta-feira, 5 de março de 2009

A cadeira de Moisés

“Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus’

Esta foi a frase que me veio a mente esta manhã quando li sobre o caso do aborto da menina violentada em Pernambuco. A história é triste e choca: uma criança de 9 anos grávida de gêmeos, fruto de constantes abusos por parte do padrasto. Como se não bastasse a criança não viver sem o pai biológico, ser pobre , viver no nordeste e ser criada por um padrasto pedófilo, agora , a pobre e indefensa criança sofre a perseguição religiosa. Perseguição esta forjada pelo santos defensores da Lei de Deus: “ não matarás”. Fiados nesta lei os religiosos se juntam em coro para condenar o aborto realizado a fim de salvar uma criança de 9 anos de dar à luz a mais duas crianças; uma gravidez indesejada fruto de violência sexual, de um crime. Fico estupefato como estes fariseus se esquecem do que JESUS disse:
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé”. Neste caso, ainda não vi nenhum pouco de misericórdia, pelo contrário, a Igreja fala em “ assassinato “ e ninguém lembra da criança de 9 anos estuprada.

Não defendo o aborto, defendo o bom senso, a sensatez e o bom juízo. Em Mateus 23 é exatamente isto que Jesus defende: o equilíbrio, o bom senso e espírito verdadeiro da Lei que é a misericórdia, a fé e o juízo. Que juízo? A razão minha gente!

Primeiro de tudo Jesus queria que usássemos a razão. Uma das coisas que a religião faz com as pessoas, e principalmente as massas, é tirar o juízo, a razão. A capacidade de averiguar uma situação e, com sensatez e bom juízo saber julgar o mérito e conseqüências de uma decisão moral. Foi o que Jesus fez com o caso da mulher pega em adultério. Ela merecia morrer, mas era razoável que ela morresse quando muitos dos homens que iriam apedrejá-la eram os mesmos seus amantes? Não, era completamente não razoável. Além disso, Jesus teve compaixão. Mesmo ela sendo culpada ele manifestou a misericórdia, antes do julgamento. Terceiro ;Jesus demonstrou fé de que aquela mulher poderia ser um ser humano melhor.

Até agora não vi nenhuma dessas atitudes. O que eu vi foram escribas e fariseus sentando-se na cadeira de Moisés; sendo legisladores de uma lei que nem mesmo eles cumprem. Eles são aqueles acerca dos quais Jesus disse que coam um mosquito, mas deixam passar um camelo. São aqueles que não entram no Reino e nem deixam os outros entrarem. Li que a Igreja está considerando a excomunhão da criança e família por terem feito o aborto, ou seja, eles se vêem na prerrogativa de fechaa as portas do Reino para uma criança. Logo uma criança, das quais Jesus disse que era o Reino de Deus.
Não faço apologia ao aborto, mas ai de mim se um dia eu me assentar na cadeira de Moisés como aquele que legisla o que é certo ou errado para a vida de alguém. Cada vida, cada situação, é uma existência diferente; com seus dilemas e implicações. Nosso dever é usar o espírito do Reino ( justiça, paz e alegria)e usar o bom senso para julgar cada situação e dar a César o que é de César. Neste caso, meu bom senso me obriga a dizer que uma criança de 9 anos, abusada sexualmente e grávida de gêmeos não tem condições de ser mãe, e que mal menor é a prática do aborto do que todo o sofrimento que o futuro traria para a mãe e as crianças. O aborto neste caso é perfeitamente legal e não só pode, como deve ser feito nestes casos específicos. A gravidez seria de alto risco, físico e emocional. Quem vai se sentar na cadeira de Moisés e dizer se a vida da criança vale menos que a dos fetos ?Difícil ser juiz nestas horas. Mas , uma coisa posso afirmar : uma igreja com o passado vergonhoso como a Igreja Católica deveria ter mais bom senso e porque não, vergonha na cara. Coam um mosquito como o aborto e o uso de camisinhas, mas deixam passar vários camelos ( claro que cheio de ouro para o Vaticano) para dentro de suas portas douradas na cidadela do Vaticano. Que Deus se apiede de todos nós e desta pobre criança vítima da maldade humana: do padrasto e da Igreja.