quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Sobre o refrigério




Há dias em que a alma seca e tudo que precisamos encontrar é um oásis.
Em meio a uma multidão de indigentes da alma, do desejo e da vida a alma se cansa. Ás vezes se arrasta em busca de pão. E o texto de Isaías 55 fica bem claro : “ Por que gastas teu dinheiro com aquilo que não é comida?”. Essa parece ser a palavra do Espírito para hoje. Nossa alma se cansa porque come demais; é insatisfeita e teimosa pra entender que comer muito não é estar satisfeito. A avidez da alma leva um ser humano a cavar fontes e escavar rios onde não há nada ou onde a água mão mata a sede. Essa é sina de todos nós. Esta sim é uma verdade que se pode generalizar: o homem tem sede. Não foi a toa que Jesus nos fala dos “ rios de água viva”, da vida que borbulharia na alma daquele que confiasse nos poderes de Cristo. E quão fácil é esquecer disso; o Tentador é muito eficaz em nos ludibriar e enganar a nossa sede. Quando estamos espiritualmente cansados ele consegue nos fazer pensar que só precisamos dormir mais, beber mais, comer mais, fazer mais sexo, sair mais. Isto é, ele nos convence de que podemos e temos o dever e , além de tudo, o direito de fazermos alguma coisa. ele, o Tentador, odeia quando pensamos em descansar; quando sentimos o chamado do Espírito para tocar no Manto. Por isso gostei tanto dessa música. Confesso que “ Trazendo a arca” não é um grupo que tem meu respeito, mas a música é verdadeira, a letra e a melodia são um refrigério. Pelo menos o foram para mim hoje. De fato, para tocar no Manto é preciso quebrantar o coração. mas, o que isso significa?

Significa que só um coração humilde e que desistiu de seus direitos como humano pode tocar no Manto. Só toca no manto quem já esgotou todos os recursos. Quem foi ao fundo e descobriu que para a alma humana não há salvação. Como disse Davi: muitos dizem de minha alma, não há salvação para ele em Deus. Porém o Senhor é um escuro e minha glória, ele levanta minha cabeça. Com minha voz clamei a Deus e ele me ouviu do seu Santo Monte.

Selah




Eu imagino essa senhora que tocou no manto de Jesus e teve sua doença sarada. Em meio a multidão, esmagada e quase pisoteada ela se abaixou e tocou. Desesperadamente precisava de Jesus. A cada dia que passa acredito mais firmemente que somente alguns podem tocar nos Mistérios de Jesus. As riquezas do tesouro eterno separado para aqueles que nele crêem.

Salvação, refrigério, inspiração, saúde, vida e compreensão dos segredos do coração são para quem realmente quer passar pela porta estreita. E quão estreita é a porta! Passar por ela é suportar muita angustia: a angustia de ficar cara a cara com o desejo e entrar na cana de braço com sua vontade e vencer. A virtude de Jesus não é para os covardes. Tem que estar prostrado para tocar no Manto. Assim como para passar pela porta estreita é preciso deixar todo peso do lado de fora. Aí sim começamos a avançar na compreensão do que que dizer " nunca mais ter sede". Devo dizer que este para mim é um dos mistérios mais insondáveis do Evangelho de Jesus. No entanto, não é por ser misterioso que devemos deixá-lo; na verdade, sinto que isto é o cerne de tudo que há: que em Deus estão as delícias eternas e ainda que, momentaneamente estejamos cercados de tanta dor e tribulação ,estamos também acumulando eterno peso de glória que há de se manifestar concretamente quando com Ele formos levados aos ares.

Eis o mistério do refrigério: Àquele que vencer lhe será dado comer do Maná escondido.

Rafael Lobato Pinheiro.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Deus como Deus é

Sei que parece muita pretensão dizer como Deus é. Eu mesmo temo ao falar palavras tais como “Deus é assim”. No entanto creio ser necessário uma aproximação maior de quem seja Deus de verdade. Isto porque o que percebo a apresentação de um Deus que não evoluiu em sua revelação e que parece ser o mesmo que antes matava nações inteiras, mandava destruir homens, mulheres, crianças e até animais. O mesmo que preferiu uns e odiava outros, aquele que quando os homens não andava, segundo suas regras apontava seu arco e os destruía.

Era assim antes. Deus se manifestou a Abraão, Isac e Jacó como “O Todo Poderoso”. Para Moisés se apresentou como Javé ou Jeová, “aquele que existe”. Era o Deus que ninguém podia chegar perto. Deus que fazia o monte fumegar. Daí pra frente, conforme a necessidade da hora Deus ia se mostrando um pouco mais: Deus que cura – Deus que faz prosperar – Deus da justiça – Deus minha bandeira. Para os judeus Deus era deles e para eles, e especialmente contra os inimigos

Como subproduto dessa visão para os salmistas Deus amava uns e odiava outros ( Sl.31:17-19; Sl. 45:5); incitava o ódio e a violência contra os inimigos (Sl. 68:21,23); era um Deus vingativo (Sl. 7:11-13); era um Deus que odeia e castiga de forma cruel (Sl. 11:5-7; 12:3). Os salmistas também viam Deus como quem usa a relação de causa e efeito, ou seja, quem é justo prospera e quem não é tudo vai dá errado (Sl1:4). Como um Deus violento, que quebra o queixo dos inimigos (Sl.3:7). Como um Deus intolerante, que odeia seres humanos (5:4-6; 5:10). Por causa dessa visão limitada de Deus a oração dos salmistas quer a misericórdia para si e a punição para os outros. A oração deles é a favor de si mesmo, mas também contra os inimigos (Salmo 10: 4-6, 13-15). Esse era um Deus assustador!

Não foram só os salmistas que tinham uma visão equivocada de Deus. Foram profetas, reis e principalmente Jó. Este conhecia um Deus que fazia justiça conforme era a justiça humana melhorada. Um Deus que abençoava os bons e punia somente os maus (Jó 23:1-7). Mais quando todo seu conceito caiu diante da sua tragédia, quando lhe foram feitas perguntas sem respostas, pode ampliar a sua visão de Deus e dizer: “Antes eu te conhecia de ouvir falar, mas agora os meus olhos de vêem”.

Isso mostra um Deus diferente do nosso? Não! Isso era somente um processo de revelação até que fosse conhecido como de fato é. O que os salmistas mostravam em seus salmos e orações era o máximo da revelação de Deus que tinham. Não era errado, era o que podia ver de Deus.

Ficar com a visão dos salmistas sobre Deus nos faz ver um Deus limitado.
Por causa desta visão atribuímos a Deus a catástrofe do Haiti; dizemos que o 11 de setembro nos Estados Unidos foi porque o americanos tiraram a oração das escolas. Essa concepção nos faz admitir que quem está sofrendo é castigo, e se está tudo bem Deus está abençoando.Os próprios discípulos de Jesus tinham esta mesma visão. Ao verem um homem cego perguntam: “quem pecou ele ou seus pais?”

Jesus é Deus como Deus é. Deus se mostrou progressivamente ao longo do tempo, mas em Jesus se mostrou totalmente como é. Jesus é a exata expressão de Deus.
Nós não podemos cometer os mesmos erros. Nós somos indesculpáveis. Tudo que podemos conhecer de Deus está em Jesus – “eu e o Pai somos um”. “Quem vê a mim vê o Pai”. A própria Bíblia só será interpretada corretamente a partir de Jesus. Ele é o centro “é a chave hermenêutica da Bíblia”, como diz o Pr. Caio Fábio.

Jesus é Deus sem nenhuma parcialidade. Ele não ama seu povo e odeia seus inimigos. Ele é amor para todos.

Deus é como Jesus é. Deus é amor. Seu reino é de paz, alegria e justiça. Deus te ama como tu és. Deus é bom. Ele veio trazer reconciliação, perdão. Veio trazer a sua graça para todos. Ele veio salvar e não condenar. Ele está de braços abertos para todos – “vinde a mim todos os que estão cansados”.

Jesus é Deus como Deus é. Até que conheçamos a Jesus como ele é não conheceremos a Deus como Deus é.

Tomaz de Aquino