sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O inevitável versus o evitável

Lucas 17:1-10

Jesus afirma que é inevitável o tropeçar, mas quem faz o outro tropeçar é alguém digno de morte.

É inevitável o tropeçar, mas o que pode ser evitável é o não perdoar.
Muitos tropeçam porque outros colocaram diante dele uma pedra de tropeço. Essa pedra chama-se falta de perdão.

Fazer tropeçar aqui é não perdoar quem pecou.
Quem não é perdoado está sendo levado a tropeçar muitas vezes. A igreja precisa rever sua prática medieval de excluir os pecadores e os expor ao ridículo diante de todos. Se houver arrependimento só temos uma opção, perdoar.

Quem não perdoa é alguém indigno de viver seja um simples crente, pastor, bispo ou apóstolo.

Viver exige perdoar, senão lhe resta morrer afogado pelos seus próprios pecados e culpas.

A relação básica entre irmãos exige perdão sempre – “Se teu irmão pecar, repreenda-o, e se ele se arrepender, perdoe”.

Perdoar não exige aumento de fé. Uma pequena fé é capaz de coisas maravilhosas, inclusive perdoar. Basta tê-la e exercê-la!

Perdoar não é favor, é dever, mandamento, obrigação.
Perdoar é uma ordem expressa. Para os cristãos, não passa de uma mera obrigação.

Perdoar não nos faz melhor, porém se o fizermos, ainda assim, seremos servos inúteis.


Tomaz

São Luis, 26 fevereiro/09

http://www.casadosenhor.org.br/

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Deus: a total alteridade


Deus: alteridade absoluta




“Alteridade (ou outridade) é a concepção que parte do pressuposto básico de que todo o homem social interage e interdepende de outros indivíduos. Assim, como muitos antropólogos e cientistas sociais afirmam, a existência do "eu-individual" só é permitida mediante um contato com o outro (que em uma visão expandida se torna o Outro - a própria sociedade diferente do indivíduo).
Dessa forma eu apenas existo a partir do outro, da visão do outro, o que me permite também compreender o mundo a partir de um olhar diferenciado, partindo tanto do diferente quanto de mim mesmo, sensibilizado que estou pela experiência do contato”( http://pt.wikipedia.org/wiki/Alteridade).

Esta é uma das definiççoes de “ alteridade”. Nenhum indivíduo cresce e se desenvolve sem referência a um Outro, exatamente em relação ao outro que nos definimos como sujeitos. Não é a toa que Jesus nos disse que os grandes mandamentos, que resumem toda lei e os profetas, é amar a Deus e ao próximo como a si mesmo.

Já faz alguns domingos que quando sento em minha cadeira para cultuar, sempre sou levado a pensar em quem realmente Deus é para mim. Tenho pensando também no que Ele significa para mim e em qual a diferença que crer em Deus faz em minha vida. Percebi que sempre que penso nisto, tenho a tendência a usar a minha própria vida para pensar em Deus. Penso em como ele supre minhas necessidades; penso em como ele me faz feliz; em como ele me salva; restaura minha alma; me conduz como bom pastor. Em nenhum momento parei para pensar em Deus em si mesmo. Dificilmente penso em Deus e em quem Ele é e o que Ele, como Deus, representa para mim; o que há nele que me seduz, ou porque Ele me atrai. No fundo minha pergunta é: Quem é Deus e o que Ele representa para mim? Caso ele nao fizesse nada para mim, o que Ele representaria? Como posso pensar em Deus sem me usar como referência?

Amar a Deus sobre todas as coisas— creio que significa ver Deus como a suprema alteridade. Deus é aquele completamente diferente de mim mesmo. Ele é o Outro absoluto. Pensar em Deus é pensar em algo completamente externo a mim; alguem que existe sem a minha ajuda, que sempre existiu. Deus tem seus próprios pensamentos; os nossos pensamentos não são os pensamentos dele. Quem conheceu a mente de Deus? Ele não é mortal. Deus é espírito. Ele possui outra natureza e habita em uma dimensão completamente alheia à nossa dimensão. Deus é eterno; um espírito que a tudo preenche e habita todo o planeta. Pensar em Deus me obriga a tirar os olhos de mim mesmo. Crescemos e, naturalmente, temos a tendência a nos relacionar com o mundo de forma egoísta, para suprir nossas necessidades biológicas e emocionais; todas elas se relacionam com a perpetuação de nossa espécie. Está em nossos genes que devemos sobreviver. É natural que pensemos assim. Entretanto, pensar em Deus e se relacionar com Ele nos obriga a dar um salto de nossa condição puramente animal para uma condição existencial e espiritual mais sublime e que tem parte com a natureza de Deus. Acredito que algo que caracteriza a natureza de Deus é sair Dele para o outro. Deus é o criador porque ele quis dividir-se com a raça humana. Deus é amor , mas não é qualquer amor. Deus é amor ágape. Amor altruista e desinteressado. Nós, seres humanos, não sabemos amar desta forma; precisamos aprender com Deus como amar como Ele ama.

Amar ao próximo como a si mesmo— Esta atitude é um movimento natural para aquele que vê Deus como a alteridade absoluta. Alguem que não tem mais a si mesmo como o referencial de tudo, “ o homem é a medida de todas as coisas”, já pode começar a amar como Deus ama. Pode começar a olhar e escutar o outro sem ter a si mesmo como referencial
Acredito que esta é uma das diferenças que Deus faz em minha vida: ele me ensina a olhar para fora de mim mesmo. Ele me ensina todas as coisas, Ele me mostra todas coisas. Num poema de Pessoa encontramos um eco desta verdade:

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando agente as tem na mão
E olha devagar para elas

Deus em minha vida é a dádiva de ter um olhar verdadeiro. Bem aventurados quem tem um coração puro, esse verá a Deus. E verá a Deus porque seu coração tem olhos para ver; olhos que não estão contaminados pela nossa natureza caída que só tem olhos para nossas necessidades. Deus é um salto da necessidade para o amor. Deus é a grande mudança que se faz em nós quando finalmente aprendemos que não somos o centro do mundo; de que o sol não gira ao redor da terra; de que os homens também são animais, e de que é possível amar como Jesus, que não pensou em suas necessidades, mas em nossa salvação.
Quem tem ouvidos para ouvir , ouça.

Rafael Pinheiro.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Acerca da oração

Acerca da Oração – Lucas 11:1-11

Hoje, Oração é um rosário de pedidos a Deus. Os crentes são ensinados a serem insistentes. Afinal de contas, é pedindo que se recebe, é buscando que se encontra e é batendo que a porta abre. O que surge disso é uma fila interminável de pessoas supostamente diante de Deus com suas listas e mais listas.
Sabendo disso, a religião instituída que visa a sua manutenção existencial fabrica métodos e mais métodos para que tais “fiéis” se mantenham nesta escalada de pedir, buscar e bater.

Mas o que Jesus ensinou acerca da oração?
Os seus discípulos lhe pediram que os ensinassem a orar, assim como João Batista fizera com os seus discípulos. Provavelmente, queriam saber como pedir a Deus de forma que seus pedidos fossem todos aceitos. Buscavam uma fórmula de oração que desse resultado.

Então, Jesus os ensinou a orar de forma no mínimo estranha.
Orar é um reconhecimento que Deus é Pai. Nos leva a pedir que o nome Dele seja santificado e que o reino venha a nós.
Os pedidos tem a ver com sustento diário e não com o armazenar para muitos dias, o que nos ensina a voltar aos seus pés sempre, pois todos os dias precisamos Dele. O acumular nos faz relaxar quanto à dependência de Deus. Salomão, o homem mais sábio que já viveu. A sabedoria dele veio de Deus, mesmo assim ele errou devido aos seus acúmulos, entre eles: cavalos, exércitos, riquezas e mulheres.
Outro pedido está relacionado com o reconhecimento de que pecamos e por isso carecemos do perdão diário, isso atrelado ao perdão concedido aos outros que, como nós, também pecam.
Enfim nos ensina a pedir a não cair em tentação nos mostrando que o mais comum entre nós é o cair. Nosso cotidiano é recheado de “armadilhas e tentações” e se o Senhor não nos livrar, como o faremos?

Estes são os únicos pedidos que constam da oração que Jesus nos ensinou. O maravilhoso é que temos um Pai, que sabe realmente o que precisamos e exatamente o que faremos para que esses pedidos sejam cumpridos em nós. O Pai, não o torna um “santo” para santificar o seu nome, não o torna um beato para que o reino seja encontrado em você. Não te dá um emprego em uma multinacional ou mesmo te faz um empresário para que tenhas sustento todos os dias. Ele não te dá perdão por atacado ou te tornas um “sacerdote” perdoador e nem mesmo te faz imune às tentações do dia-a-dia. O Pai nos dá o que realmente precisamos para tudo isso. Ele nos dá o seu Espírito! É tudo que precisamos e nada mais. Tudo mais que realmente necessitamos o Espírito em nós nos capacita a alcançar.

Que essa seja nossa oração cotidiana.


Em Deus nosso Pai, Jesus nosso mestre e o Espírito nosso ajudador.

Tomaz

São Luis-Ma, 11/02/09